Origens do CAES: O Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
Em 1919, com o fim da Grande Guerra, Antoine Nérel, agora General do Exército francês, retorna ao Brasil para um novo contrato firmado com o governo paulista. A fase, conhecida como “Segunda” Missão Francesa de Instrução, retomou a tarefa de orientar a instrução da Força Pública de São Paulo, com métodos modernos, baseados na experiência dos franceses, vencedores do, até então, maior acontecimento bélico da história humana.
A instrução da tropa, em todas as suas modalidades, continuou em franco progresso, sob a direção do dedicado chefe, dotado de uma modelar capacidade de trabalho ao lado de suas intensas atividades.
Foi com esse desejo de atualizar os conhecimentos dos oficiais que
o General Antoine François Nérel propôs a criação do CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS (CAO), cujos argumentos foram de pronto acatados pelo governo do Estado.
E, por meio da Lei nº 1.95116, de 26 de dezembro de 1923, foi criado o CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS, voltado para primeiros tenentes e capitães habilitados à promoção, porém, facultativo. Com duração de dez meses, dividia-se em curso médio e curso superior, compreendendo este último o ensino do serviço de Estado-Maior.
O Curso de Aperfeiçoamento, regulamentado pelo Decreto nº 6.681, de 29 de janeiro de 1924, tinha por fim aperfeiçoar os conhecimentos profissionais desenvolvidos nos oficiais, as qualidades necessárias ao comando e à função de instrutor. Neste mesmo ano, encerraram-se as atividades do General Nérel, que retornou à França.
Os assuntos do curso abrangiam os regulamentos adotados na Força Pública, referentes à Arma a que pertencer o aluno, emprego dos carros de assalto, trabalhos de campanha e organização do terreno, emprego dos petrechos utilizados na infantaria, do material empregado no serviço de campanha e especialmente do regimento de campanha, dos meios de ligação e de transmissão, usados pelos exércitos em campanha, de topografia prática e noções teóricas, aspectos fisiológicos da ginástica, noções de hipologia prática, serviço do Estado- Maior em campanha e organização do Exército Nacional.
O curso era composto por um Major diretor, um professor de Infantaria, um professor de Cavalaria, dois professores de Aviação, dois professores de bombeiro e quatro professores de matérias comuns a todas as armas. Os professores ou instrutores poderiam ser nomeados ou contratados, e os regulamentos, regimentos e programas eram organizados pelo governo.
Aos tenentes e capitães aprovados no Curso de Aperfeiçoamento era facultado habilitarem-se à promoção na Arma, matriculando-se na respectiva cadeira desse curso. Os oficiais aprovados, mesmo alcançando médias superiores, não poderiam preterir os aprovados em turmas anteriores, porém, em cada turma, as promoções far-se-iam ordem indicada pelas médias, observando-se os requisitos referentes à aptidão física e ao comportamento.
O primeiro diretor do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais foi o Major Francisco Julio César de Alfieri, tendo como professores: Capitão José da Silva, Capitão Romão Gomes, Capitão José Marcelino de Fonseca, Capitão Roberval de Menezes, Capitão Juvenal Batista Gomes, Capitão José Maria dos Santos, Capitão Cristovam de Oliveira e Silva, Capitão João Francisco da Cruz, Capitão Messias Henrique Ribeiro, Dr. Hermes Lima e Dr. José Rangel Belfort de Matos.
Ainda nessa época, o Curso funcionava na Avenida Tiradentes, primeiramente no numeral 88 e, em outro período, no numeral 144.
Francisco Júlio César de Alfieri: O fundador do CAES
Coronel PM, de nacionalidade italiana, filho de militar. Desembarcou no Brasil e alistou-se como voluntário no 1º Btl (atual 1º BPChq-BTA) em 1897.
Como Soldado participou das operações em Canudos onde foi ferido no assalto ao arraial do Conselheiro o que lhe valeu a promoção por ato de bravura a Sargento Furriel.
Como Oficial auxiliou a Missão Francesa na tradução dos textos dos regulamentos para o português. Em 1907, como 1º Tenente, fundou a 1ª escola da PM, o “Pelotão de Alunos Cabos”, depois, a Companhia Escola, o Corpo Escola (1912), cerne do CFSd, CFAP, EEF e APMBB.
Já Major, em 1913, fundou o Curso Especial Militar, que ministraria ensino às Praças que se destinavam ao Oficialato. Para defender sua terra natal por ocasião da I Grande Guerra, exonerou-se da Corporação apresentando-se como voluntário às forças aliadas como soldado voluntário, tendo no Exército italiano, alcançado o posto de Capitão, onde combateu na frente austríaca até o armistício em 1918.
Readmitido nas fileiras da Força em 1922, como Major, dirigiu a Repartição de Material e, posteriormente, foi designado Diretor do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais.
Em 1932, Tenente Coronel, combateu pela causa constitucionalista, tendo sido Chefe do EM da Força Pública. Reorganizador da Biblioteca, Arquivo e Museu da Corporação. Reformou em 05OUT42, falecendo em 23MAI44, na cidade de Bauru. Pelo seu feito, o Cel Edilberto de Oliveira Melo costuma dizer: “Alfieri foi um novo Garibaldi, herói de duas Pátrias”.
Fonte:
O histórico do CAES foi extraído de Rosas Júnior, José Roberto. A história do Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores. Monografia. Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores – “Coronel PM Nelson Freire Terra”, Polícia Militar do Estado de São Paulo, São Paulo, 2009. p. 35-37.
A biografia de Alfieri foi extraída da revista “A Força Policial” n.º 17.